quarta-feira, 28 de julho de 2010

Repercussão

É notório evidenciar a repercussão promovida pelo artigo publicado na Folha de São Paulo no último dia 25 de Julho o qual mostrou a taxa de analfabetismo funcional entre pacientes e acompanhantes do ambulatório do Hospital das Clínicas, já foram publicados dois editoriais sobre o assunto. Assim, reforço as considerações que devem ser feitas para interpretação do problema.

A taxa de analfabetismo funcional de 23,5%, definida como Inadequada por ter índice de acertos ≤ 53%, frente a perguntas simples contidas no instrumento chamado “Test of Functional Health Literacy in Adults” (TOFHLA), merece considerações que não remetem à rotina clínica.



Cartaz do filme Preciosa, filme norte-americano de uma triste história de Claireece Preciosa Jones que sofre inúmeras privações e abusos. Um tópico do filme é o analfabetismo funcional.


Primeiramente, o texto lido por acompanhantes e pacientes foram impressos em letras de forma. Forma não rotineira na prática clínica em que impera a caligrafia médica. Segundo fator, deve-se a maioria das pessoas estudadas, cerca de 208 (66%), relataram ter escolaridade superior ou igual a 8 anos. Isto representa a realidade brasileira? É importante esta consideração, pois na discussão do artigo os autores ressalvam, que o mesmo teste foi aplicado nos EUA e a taxa de analfabetismo funcional foi de 33%. A justificativa para este dado elevado norte-americano foi a maior proporção de idosos relacionados ao analfabetismo funcional e porque na amostra brasileira estudada havia maior prevalência de pessoas com escolaridade superior a 12 anos.

Embora os dados mereçam ser ampliados para um estudo nacional, apontam nossas principais deficiências que vivem interligadas: educação e saúde, não necessariamente na mesma ordem.

domingo, 25 de julho de 2010

Comunicação médico e paciente... um problema de educação ou de saúde?

O artigo publicado no dia 25/07/2010 na Folha de São Paulo, no caderno Cotidiano escrito por Ricardo Westin com o título “1 a cada 4 não compreende a orientação médica no HC” é extremamente importante para os médicos, pacientes e acompanhantes, pois relata uma pesquisa realizada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, que segundo o artigo da Folha o objetivo era identificar analfabetos funcionais entre acompanhantes e pacientes do Hospital. É relatado que 23,5% das pessoas (312 analisadas) não compreendem o que é lido e que esta relação está indiretamente relacionada ao tempo de escolaridade, ou seja, quanto menor tempo de escolaridade, maior é a taxa de analfabetismo funcional. É importante entender, que a pesquisa excluiu as dúvidas referentes à caligrafia médica, pois as informações foram impressas em letra de forma.



As questões ressaltadas no jornal preocupam, mas principalmente sinalizam questões as quais o médico sempre desconfia se é compreendido quando prescreve um medicamento, solicita um exame, ou orienta seu paciente ou acompanhante perante as restrições e/ ou preparo para exames laboratoriais, entre outras inúmeras recomendações.

Embora o assunto desta postagem não seja hematológico, entendo que é fundamental discutir o assunto neste blog, pois este espaço visa informar pessoas leigas e a comunicação é essencial tanto do ponto de vista virtual, como este blog, assistencial e nas pesquisas clínicas.



Confesso que pela primeira vez pude ler algo que mensura esta forma de comunicação médica, assim valorizo a “porta” que o jornal Folha de São Paulo abriu para que pudesse obter o artigo original na fonte.

Ao ler o jornal surgiram inúmeros questionamentos

1) Qual a fonte deste artigo?

2) O artigo é recente?

3) Quais foram os critérios de inclusão para a seleção das pessoas pesquisadas?

4) Esta amostra de 312 pessoas representa a população brasileira?

5) Qual foi o método utilizado para obtenção deste resultado? Qual seria a média de pontos atingida no questionário para obter a definição “não entendem o que lê”?

6) Embora pareça alta a taxa de 23,5% de analfabestimo funcional, desta amostra de pessoas brasileiras, como estamos em relação às nações da América Latina e do primeiro mundo? Ou melhor, qual deveria ser a taxa aceitável?

7) Qual foi a taxa de analfabetismo funcional em idosos? Uma vez, que pode haver déficit de atenção.

8) Os jovens têm maior nível de escolaridade? Existe uma perspectiva melhor para os mais jovens?

O artigo está na íntegra disponível no link http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v43n4/124.pdf . Assim, o artigo fonte em que a coluna da Folha de SP relata foi publicado na Revista de Saúde Pública em 2009 – fonte Rev Saúde Pública 2009;43(4):631-8. O título do artigo publicado na língua inglesa é “Performance of a Brazilian population on the test of functional health literacy in adults”.

Com o artigo nas mãos pude notar que o objetivo do estudo não era identificar o analfabetismo funcional e sim analisar o instrumento que avalia a habilidade de leitura e compreensão de materiais da área de saúde segundo escolaridade e idade.

Os critérios de inclusão das pessoas analisadas foram:

- Idade superior ou igual a 18 anos.

- Ter no mínimo um ano de estudo escolar ou ter ensino informal para leitura, estes foram considerados com 1 ano de escolaridade.

- Ausência de distúrbios neurológicos ou psiquiátricos, ou usuário de medicamentos que alteram a cognição.

- Ter acuidade visual mínima capaz para leitura e acuidade auditiva mínima para ouvir as solicitações e questionamentos.

- Idosos acima de 64 anos precisavam ter um informante que relatasse ausência da diminuição da cognição.

- Ausência de doenças crônicas não tratadas, como: hipertensão arterial, diabetes mellitus outras doenças do coração.

- Ausência de etilismo.

Portanto, como todo estudo os critérios para inclusão das pessoas analisadas não representam a realidade, mas são fundamentais para a elaboração metodológica do estudo.

O “Test of Functional Health Literacy in Adults” (TOFHLA) foi traduzido para o português e este foi o instrumento para análise do analfabetismo funcional. Este teste foi desenhado em 1995 para medir a habilidade de ler e entender informações de saúde. O teste mescla a compreensão da linguagem com informações numéricas mínimas.

Exemplo:

Tomar 1 comprimido com estômago vazio 1h antes das refeições ou 2 a 3hs após.

Se você fosse almoçar às 12hs e quisesse tomar a medicação antes do almoço, a que horas você deveria tomá-la?

A pontuação máxima do teste é 100 pontos e conforme a somatório de pontos as pessoas foram classificadas como compreensão: inadequada, marginal, ou adequada, conforme a convenção abaixo:

- Inadequado: 0 a 53 pontos
- Marginal: 54 a 66 pontos
- Adequado: 67a 100 pontos

Os autores na discussão utilizam o termo analfabetismo funcional para as pessoas que foram classificadas com respostas inadequadas.

Em relação ao tempo de escolaridade a maioria, 66,6%, estudou 8 anos ou mais.

A tabela abaixo, demonstra a relação inversa de tempo de escolaridade e taxa de analfabetismo funcional.

Tempo de escolaridade              Analfabetismo funcional
1 a 3 anos                                 82,50%
4 a 7 anos                                 42,20%
8 a 11 anos                               14,10%
Maior ou igual a 12 anos            ZERO

Em relação de analfabetismo funcional global de 23,4% em comparação com outros estudos, os autores citam uma pesquisa realizada nos EUA que um terço dos pacientes, ou seja, 33% foram classificados como analfabetos funcionais. A justificativa é que a amostra brasileira a porcentagem de pessoas com escolaridade superior a 12 anos foi maior que a da população norte-americana estudada, justificando o melhor resultado.

Portanto, é muito difícil concluir estes resultados, seria importante aumentar a amostra da população, utilizar critérios semelhantes para inclusão das pessoas analisadas em diversos paises para sabermos a real dimensão deste problema que existe e precisa ser combatidos por professores nas escolas e pelos médicos e enfermeiros nos consultórios.



Assim, caro leitor, ao receber orientação médica, solicitação de exame e prescrição de medicamentos, questione seu médico até estar tudo muito claro e compreendido.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Razões para doar sangue



Recentemente estamos notando na mídia uma nova campanha do Ministério da Saúde para estimular a doação de sangue. Assim, reforço e ajudo a divulgar este movimento, pois o ato de doar sangue é voluntário e extremamente nobre. Como é comum neste blog, informo as razões que justificam e reforçam a importância da doação, como também a necessidade constante de doações em todos os períodos do ano.

1- Quantas pessoas posso ajudar com uma única doação de sangue?

Quando o sangue do doador é retirado, rotineiramente, este sangue é separado em três partes: glóbulos vermelhos, plaquetas e plasma. Portanto em uma única doação é possível ajudar três ou mais pessoas.

2- Qual é a importância da transfusão de glóbulos vermelhos, também chamados de hemácias?

O Concentrado de Hemácias melhora o transporte de oxigênio para o organismo, melhorando os sintomas e sinais de anemias. É amplamente útil e vital em todos os serviços do hospital como nas unidades de emergência, centro cirúrgico, enfermarias e nas unidades de tratamento quimioterápico.

3- Qual é a importância da transfusão das plaquetas?

O Concentrados de plaquetas diminui a chance ou ajuda a reduzir sangramentos decorrentes da diminuição de plaquetas, ou em situações raras em doenças, nas quais as plaquetas não funcionam. É muito utilizado nas unidades de emergência, centro cirúrgico, enfermarias e principalmente nas unidades de tratamento quimioterápico.

4- Qual é a importância da transfusão de plasma?

O plasma fresco congelado contém fatores de coagulação ajudando nas situações de distúrbios de coagulação decorrentes da diminuição da atividade desses fatores. É muito utilizado nas unidades de emergência, centro cirúrgico e enfermarias.


5- Por que é importante doar sangue com freqüência?

A validade, ou melhor, o tempo de estocagem varia de acordo com o tipo de hemoderivado: hemácias, plaquetas ou plasma fresco congelado. O tempo de estocagem de cada hemoderivado, respectivamente é 35 dias, 5 dias e 1 ano. Portanto, fica claro que se o banco de sangue parar de receber doadores em 5 dias o estoque de plaquetas acaba. Assim, infelizmente é muito comum nos feriados prolongados como carnaval, natal e ano novo haver escassez de plaquetas.

6- Qual é o risco de doar sangue?

O ato de doar é extremamente seguro, pois antes do ato em si. O doador passar por análise da pressão arterial, freqüência cardíaca e dosagem de hemoglobina para descartar que um doador anêmico doe sangue sem se prejudicar. Além disto há limite para idade e peso. Portanto doar sangue é seguro e não prejudica a integridade do doador.

Se você leitor tiver dúvidas sobre o ato de doar, escreva um comentário.

Estou disposto a convencê-lo que doar sangue só faz bem!

Neste próprio blog há mais informações clique na figura abaixo